Para Marco Bomfim,
o surrealista que é também pintor.
O aspecto era pavoroso. Era um homem extremamente feio, em sua magreza cadavérica. Não pesaria mais que uns trinta quilos, apesar de ter cerca de 1,60m de altura. O rosto encovado e a testa muito pronunciada faziam seus olhos, circundados por grossas olheiras, parecerem fundos. Não que tivesse um olhar profundo; ao contrário, este era opaco, sem vida, e parecia perder-se em lugar nenhum. Sua cor... o que é que tinha mesmo a sua cor? Não, não tinha. Ele simplesmente não tinha cor. Nem chegava a ser o que se pudesse chamar de pálida. Pois era algo meio alvacenta, que lhe conferia uma transparência esquisita, deixando visíveis veias e artérias, além da sombra dos seus órgãos em pleno funcionamento. Não exibia um só fio de cabelo pelo corpo, e sua imagem lembrava em muito a figura dos cocheiros de filmes de vampiro.
Quando ele entrou na sala-de-espera do consultório, a moça da recepção sentiu-se envolvida por um misto de susto e asco. É que o homem, além de tudo, trazia um lagarto na cabeça. No primeiro momento, ela pensou em abandonar o local
Tão logo chegou um outro paciente, ela aproveitou para ir lá dentro falar com o médico sobre o que estava acontecendo. Este não deu muita atenção, pois a moça era adepta de uma igreja evangélica pentecostal e tinha por hábito ter mais visões do diabo que de Deus. “Deve ser mais um dos muitos demônios que ela vê por aí” – pensou. Enquanto isso, as pessoas que iam chegando evitavam sentar próximas àquele indivíduo, com aquele bicho se movendo em sua cabeça. Temiam que a qualquer momento o lagarto caísse e causasse o maior tumulto no recinto. Mas isso não aconteceu.
Chegou o momento de ele ser atendido. Horácio Luiz da Assumpção foi o nome que teria dado, ao marcar a consulta pelo telefone. Quando entrou no consultório, o médico também levou um susto. Indicou uma cadeira para que o paciente se sentasse e lhe pediu que tirasse o lagarto da cabeça. O homem nada disse. O doutor reiterou o pedido, obtendo o mesmo silêncio como resposta. Então resolveu ele mesmo tomar uma providência. Levantou-se e, segurando firme o corpo do animal, puxou-o para cima. O que viu foi espantoso. O bicho era grudado à cabeça do homem. No puxão, surgiu entre a careca e a barriga do réptil uma pele viscosa, que esticou como acontece com o piche ou uma goma já mascada. O profissional resolveu deixar aquilo quieto, sentou-se e perguntou:
- Como e quando foi que lhe aconteceu isto?
E para sua surpresa, quem respondeu foi o lagarto, que disse:
- Bem, doutor, tudo começou com uma coceirinha na barriga. Eu fui coçando... coçando... coçando... até que surgiu um carocinho. O diabo é que ele coçava mais ainda. E eu continuei coçando... coçando... coçando... e o caroço foi crescendo... coçando e crescendo... coçando e crescendo... até se transformar nesta coisa asquerosa que o senhor tá vendo aqui. E o pior é que ainda coça muito. Por isso é que não consigo parar de me contorcer. Já consultei muitos veterinários, mas todos dizem que isto é coisa para tratar com um dermatologista, assim como o senhor. Agora me diga, doutor, existe alguma pomada que faça esta porra secar ou é caso de uma intervenção cirúrgica?
22/07/2008
Fala Eldemar,
ResponderExcluirCoitado do lagarto...pariu o José Serra...
Grande abraço e parabéns pelo Blog.
Não é que esse intrometido do Portella me tirou a piada. Conforme eu ia lendo já sabia que só poderia ser o Serra. Portella, fica aí no teu blog...Pô.
ResponderExcluirFinalmente, nasceu o blog, ufa.
ResponderExcluirAgora teremos você sempre por perto, mesmo distante fisicamente.
Parabéns.
PS.: É o Serra mesmo, rsrsrsrs.
Parabéns meu amigo, estarei te seguindo agora....
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